quarta-feira, 23 de junho de 2010

NUDEZ TOTAL

A mulher se enfeita.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

os sobreviventes

"Eu peço um cigarro e ela me atira o maço na cara como quem joga um tijolo."

segunda-feira, 14 de junho de 2010

inútil micro-prosa para quem anda tão perto

Porque se não há coragem, que não se entre. É melhor permanecer na superfície, a mesma que quiseste deixar para outra página. Curioso como a gente se trai nas mínimas pausas, nos não ditos, no que se perdeu na fimbria das sinapses confusas e congeladas do mês. As pessoas querem pouco, e o que é pior, em doses homeopáticas. Preciso reaprender este jogo urgentemente. ("All in" é assim que se diz?) Não é o teu silencio, nem a tua alma fugidia, nem tuas palavras que me trouxeram. É porque enxergo a mulher que se esconde por detrás de tantos véus. Rabisco olhos nos olhos, açúcares e afetos, trocando em miúdos: sem fantasia. Bobagem, eu sei. Talvez nem tão mulher assim, talvez nem tão homem também. É esse teu indelével ascendente em peixes. Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas como o fundo do mar. Os bichos quando temem exalam um odor de compaixão que impunemente paralisa o predador. Um tiro de misericórdia, um grito suspenso no ar. (Ouves?) Não sou dado a compaixão. Os filhos únicos são seres mesquinhos. Sinto que te afundas e minha fome cada vez aumenta mais. Sei que marco. Permaneço, atormento, disconecto, aturdo, impulsiono, fascino, desperto.
Por aqui tudo bem, baby. Nothing at all. Um avião passa, o sol não aquece, não ouço nada demais. Feliz aniversário. (Pausa. O telefone toca). Não foi engano. Eu já sabia que não era você.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

atentado

- Porque o que esqueceram de te contar, garotinha, é que as coisas são bem maiores do que o tamanho dos teus chapéus. O mundo está cansado de enxergar a miséria e quem, me diga, quem você acha que apraz com as tuas palavras? Engraçado. Quando eu tinha a tua idade também julgava ser a criatura mais miserável do mundo. Vagava pelas noites escrevendo à velas, escarafunchava no mais fundo de mim, na mais profunda dor e achava que esta era a única condição que a literatura me impunha: o sofrimento. Quando a gente tem essa idade essencial é a atenção. A rebeldia, o rompimento, a transgressão, o ódio. Tem gente que acha que o renascimento advém da dor. E hoje me pergunto: pra quê? É isso que vejo nos textos teus. Honestamente, não me agradam. E nem tinham que me agradar. Bobagem é querer conquistar alguém com palavras. A voz que lê jamais saberá das pausas, do não dito, da cadência, nem das mãos que escrevem. Tesão a gente resolve é na cama. Por isso não quero teus sonetos, nem tuas elegias, nem tuas odes, nem nenhuma palavra tua. Quero o teu silêncio. Melhor: quero o teu gemido. É nele que mora o teu encanto. No sub-texto, no fundo escuro, na curva imprecisa do teu pescoço. Tua coxa se entreabrindo, minha mão certeira. Quero paredes, palpites, armários, rastros, hormônios. Quero vermelhos pecados profanos. Línguas e dentes. Destruição e barbárie. Vês? Falo com as mesmas letras que insistes em utilizar para elevar a dor. Cada qual com seu monólogo, eu sei. Mas por que, menina, não aprendes a conviver com o prazer? Tão bom selar-te com meus pelos; minhas pegadas de jovem leão. Navegar, navegar, navegar em teu corpo é quente. Conservado pelo vinho, pelo desejo. (Ah! El deseo). Minha cara, deixe esse romantismo de lado, é tão demodé! A melancolia não embaralha os lençóis nem deixa cicatrizes. Lembra-te daquele velho Aerosmith, dos nossos jeans rasgados, da ponta, da poça de vinho tinto no tapete e da água. Lembra-te de como sorvemos um ao outro, serpentes, umedecendo os lábios e nos fartando de uma carne que ali sim provamos bundamente. Pra que buscar o eterno no perecível? Amor eterno é papo de anjo. É enfadonho, lírico demais. As grades que existem nos teus entornos precisam de um grito de libertação e eu não o darei. Mas...repara naquelas mulheres. Aquelas que desconhecem Adele H., Camille Claudel, nem nunca sequer tocaram na capa de um Nietzsche, aquelas mulheres que não sobem nem descem a Rua, de porões e saltos, de Dreyer na mão e fósforos, estas sim, certamente, podem servir de aliadas para o teu ano novo quântico que já se anuncia. Bobagem te dizer tudo isso, eu sei. Cada qual com seus truques. É porque me vejo em você. Não é saudosismo, é pura vaidade. Quero me metamorfosear nessa fonte que avista a gilhotina. Quero o corte, o risco. Por isso abuse, meu bem. Tire essa dor do peito, dispa-se e mande teu corpo me visitar. São 1h53 da manhã. Em São Paulo faz frio, 13º na Avenida Paulista, bebi um pouco demais. Talvez por isso, quem sabe, talvez por isso queira tanto me atirar.