domingo, 22 de março de 2009

PEQUENAS SUGESTÕES E RECEITAS DE ESPANTO-ANTITÉDIO PARA SENHORES E DONAS DE CASA.

II

Pegue um nabo. Coloque duas os três palavras dentro dele, por exemplo: bastão, ouro, amplidão. Chacoalhe. Você não vai ouvir ruído algum. É normal. Aí ajoelhe-se com o nabo na mão e diga:

Com o bastão que me foi dado
com o ouro que me foi tirado
e sem nenhuma amplidão
de conceitos e dados
quero renascer brasileiro e poeta.
Quem te ouvir vai ficar besta.
V
Coloque duas alcachofras cruas dentro de uma vasilha com água fria. Fique ali esperando as folhas de alcachofra se soltarem e medite sobre a tua condição de ser humano mortal e deteriorável. Quando enfim todas as folhas estiverem sobrenadando, tome um banho, porque, convenhamos, há quantos dias você está aí.
Calma, calma. Eu também já recebi a tua receita de bananas e traques.

sábado, 21 de março de 2009

PAN CINEMA PERNAMENTE

Não suba o sapateiro além da sandália
- legisla a máxima latina.
Então que o sapateiro desça até a sola
Quando a sola se torna uma tela
Onde se exibe e se cola
A vida do asfalto embaixo
e em volta.
[In: ALGARAVIAS. SALOMÃO, WALY.]
O
VERBO
CONTRA
O
VENTO.

quinta-feira, 19 de março de 2009

AMASSA

Devo ter desaprendido o jeito ou... como se diz?
Hoje, que Ela completaria seus sessenta e quatro anos de arte, mergulhei profundamente em sua persona.
Isso de ser artista,
de não-pertencer,
de ser marginal.
À Eles - que nunca couberam em nomes por isso não citá-los-ei - a massa vira a cara.
A massa inventa e trucida e atira seus venenos libidinosos e prova formas e testa moldes e quer padronizar.
O que foge à margem confunde as sinapses arquetípicas da pobre massa. Por isso é de seu princípio tecer micro-verdades enfileirados em suas mini-salas-de-estar sem mal conseguir conjugar o verbo.
Seje. Seje. Seje Seje.
A massa nos quer! A massa quer ser!
Ao caralho com a massa!
E, já que doado fui do lado de cá, à direita dos deuses que nunca engoliram sopa fria nem nunca tiveram colher, este é o meu caminho.
Recluso, recuso, recuo.
Não recuo, vou em frente, dou a cara, derramando o leite mau na cara dos caretas, rebatendo-me, pedindo, senhor, piedade, piedade, para toda essa gente burra, careta, covarde, unânime, comezinha, com suas caras empapuçadas de rouge vagabundo.
Sou. Sim. E, aos que amofinam-me, cedo os melhores lugares em casas cheias, sessões extraordinárias e, ao final da ovação, sentar-me-ei satisfeito com vossos uivos.
"BRAVO!"
Eis a massa: ou se faz um boneco, ou se faz uma torta.
Não era bem isso o que almejara dizer, mas quem se importa?
Saibam, senhores, que não me agrada rimar - mesmo com terminações tão infinitas.
Em suma, vamos estragar logo este belo e ponto e massa.

quarta-feira, 18 de março de 2009

"Para esse, lembra Cazuza: "Vamos pedir piedade, Senhor, piedade para essa gente careta e covarde". Mas para você, revelo humilde: o que importa é a Senhora Dona Vida, coberta de ouro e prata e sangue e musgo do tempo e creme Chantilly às vezes e confetes de algum carnaval, descobrindo pouco apouco seu rosto horrendo e deslumbrante. Precisamos suportar. E beijá-la na boca. De alguma forma absurda, nunca estive tão bem".

[C.F.A]


P.S. Único: Parabéns, Elis.

sexta-feira, 13 de março de 2009




Me cansei de "lero-lero"!
Dá licença mas eu vou sair do sério.
Quero mais SAÚDE!
Me cansei de escutar opiniões, de como ter um mundo melhor.
Mas ninguém sai de cima desse chove, não molha!
EU SEI QUE AGORA EU VOU É CUIDAR MAIS DE MIM!

- Como vai?
- Tudo bem.
Apesar, contudo, todavia, mas, porém [...]
As águas vão rolar, não vou chorar.
Se por acaso morrer do coração é sinal que amei de mais.
Mas enqüanto estou vivo, cheio de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz!


P.S.: Seguem beijos para uma louca amiga loura!
Saúde, saúde, saída!
NAMASTÊ!

terça-feira, 10 de março de 2009

Uma história de borboletas


"Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara."


[In: Pedras de Calcutá. C.F.A.]